Porque artigos de pesquisa são difíceis de serem lidos?

Esse post foi traduzido. O post original foi publicado em 12 de setembro de 2018 por Genevive R. Moore.

Porque artigos de pesquisa são difíceis de serem lidos?


A primeira vez que li um artigo científico foi na faculdade. Ou, o que eu realmente quero dizer é que eu tentei ler um artigo de pesquisa – e foi como se meu cérebro fosse derreter.

Ao invés de terminar o artigo científico, eu larguei a aula e troquei de linha de pesquisa. Se você já tentou decifrar literatura científica primária e se sentiu completamente esgotado, você não está sozinho. Aquela confusão de palavras, números e gráficos foi praticamente projetada para ser complicada e entediante.

Que tal saber um pouco sobre a história da literatura acadêmica e sua crise atual?

Um história antiga do elitismo


Acadêmicos pelo mundo precisam de uma linguagem universal. Eles precisam de um jeito para colaborar e para ensinar uns aos outros. Atualmente, essa linguagem é o inglês – pesadamente carregado de jargões.

No entanto, a pouco tempo, toda a literatura científica era escrita em latim – mesmo quando o latim já estava “morto” por milhares de anos. E ainda antes disso, quando o Império Romano estava prosperando e os plebeus falavam latim, os acadêmicos se comunicavam em grego…

Idiomas secretos professos foram usados historicamente para proteger a pessoa comum de aprender sobre tópicos delicados – como diagnósticos médicos e dilemas religiosos. Infelizmente, idiomas especializados também mantiveram guardados conhecimentos que apenas as classes com maior nível de ensino poderiam acessar.

Como a Europa descobriu na Idade Média, essa estratégia pode sair pela culatra. Após o colapso do Império Romano, a habilidade de ler e escrever em grego estava perdida. Apesar de ainda possuírem livros contendo conhecimento científico e médico, eles eram todos inúteis sem alguém para os traduzir.  

Dessa forma, acadêmicos de elite ajudaram a trazer a Idade das Trevas… já que não registraram seus conhecimentos de uma forma que uma pessoa comum pudesse compreender.

No entanto, tem ficado ainda pior


Talvez cientistas tenham mudado para o inglês no século 18 porque queriam deixar seus achados mais acessíveis – mas esse gesto não pode ser encontrado nos pesquisadores dos dias de hoje.

Em uma era em que livros, a mídia e os presidentes estão usando um inglês mais simples, cientistas estão, cada vez mais, usando um inglês complexo. Isso não é apenas uma opinião: pesquisadores examinarem centenas de milhares de resumos de artigos científicos escritos desde 1881 até 2015 e encontraram que eles têm se tornado menos legíveis com o tempo.

Como estão menos legíveis? Palavras são esotéricas e contém mais sílabas – e frases são mais longas.

Não apenas isso, mas um estudo menor de artigos de pesquisa em neuroimagem descobriu que quanto mais importante um artigo é (publicado em revistas com fatores de impacto maiores), menos legível é.

Não é que cientistas estão tentando confundir o público em geral… Eles simplesmente não estão pensando nessas pessoas, em absoluto. Cientistas escrevem com uma audiência limitada em mente e usam um linguajar super especializado e complexo para sinalizar aos seus revisores que são especialistas em seus campos de pesquisa.

Todos nós já ouvimos que o inglês como idioma está evoluindo. No entanto, parece que o inglês científico está divergindo – evoluindo para uma complexidade crescente.

Falta de controle de qualidade


Uma pequena nota: se você não consegue dar sentido ao que está lendo, pode haver uma boa chance de que simplesmente não faça sentido mesmo. Um número crescente de artigos científicos estão sendo publicados apesar de terem uma gramática terrível.

Porque há uma enxurrada de tantos artigos mal escritos?

Uma das razões: não há uma recompensa para um artigo bem escrito. Se o inglês for minimamente aceitável, melhorias em sua legibilidade não vão contribuir tanto assim para que seja publicado em uma revista melhor.

Outros podem apontar o número crescente de publicações por falantes de inglês não-nativos.

No entanto, um dos problemas é o aparecimento de um número gigantesco de revistas científicas que lucram com artigos que podem nem sequer terem sido revisados. Uma estimativa recente sugere que até 400.000 artigos foram públicos no ano passado nestas revistas.

Todos sofrem


A pesquisa científica está acelerando e o mundo está se afogando em artigos que, na maioria das vezes, não serão lidos por serem muito complexos ou mal escritos (ou a combinação de ambas as coisas). Como isso nos impacta?

Autores sofrem porque, após anos de trabalho duro, suas obras primas por vezes não são notadas. A maioria dos pesquisadores evitam a publicidade e contam com a reputação e com a mídia para divulgar suas ideias. No entanto, a mídia cobre apenas uma fração das descobertas científicas – e frequentemente mutilam as descobertas.

Pesquisadores de outros campos também sofrem porque o conhecimento fica preso dentro de seus próprios campos… como vilas vizinhas que não conseguem se comunicar ou comercializar porque falam dialetos distintos.

E o mais importante: o público sofre.

Ao invés de estar lutando para interpretar artigos de pesquisa, muitas pessoas confiam nas notícias para que entreguem as atualizações mais “Importantes” da ciência. Infelizmente, a mídia cobre apenas descobertas sensacionais, que geralmente vão de encontro com inúmeros relatórios que provam metodicamente o ponto contrário.

E então, o tópico é esquecido até um ou dois anos depois quando um novo artigo sensacional é publicado afirmando algo inteiramente diferente. Qual a melhor dieta para prolongar sua vida? Qual a quantia segura de álcool que podemos ingerir? … A forma como a mídia cobre descobertas científicas deixa o público sem escolha a não ser desconfiar de cientistas.

Então…. Se você está se perguntando por qual motivo artigos de pesquisa são tão difíceis de serem lidos, você deveria primeiramente se parabenizar pelo desejo de os ler e julgar as evidências por si mesmo. A maioria das pessoas sequer tenta.

Agora nós apenas precisamos levar a mensagem aos cientistas que estão sedentos por conhecimento – só precisa ser um pouco mais palatável.

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